30 de maio de 2011

Sonhando o sonho dos sonhos


Sonhei vários sonhos. Ao todo uns doze sonhos. Entrei nos sonhos. Os sonhos viraram uma realidade. Os desejos daqueles sonhos se esgotaram na realidade. A realidade saiu dos sonhos. Morreram os sonhos. Agora nessa nova realidade sonho outros sonhos. Como os sonhos de outrora que sonhavam em ser sonho. Os sonhos não só foram, mas também se foram e ainda serão sonhos. Sonhando.

13 de maio de 2011

Sobre os tempos

Acordei em um vislumbre. Podia ver a malha do tempo como ninguém tem acesso. Sem fatores psicossomáticos, sem interferência da luz, sem ideais de física moderna, mecânica quântica ou metafísica. Era o tempo despido dos seus trajes terrestres.
Naquele lugar, segundo os gregos antigos, eu vi apenas o chronos, sendo que o kairos unicamente o Criador tem acesso. Eu estava na 4ª dimensão (temporal), sem estar nas outras três (espaciais). Havia uma gigantesca máquina, a “Inacessível”. Era regida por controles numéricos interligada a uma pequena rede de acontecimentos. Ela patinava, rangia e costurava uma pequena fita de fatos. Não tive nenhum tipo de explicação.
Acredito que ali era o princípio, o famigerado Big Bang, a origem do Universo, o gerador do tempo. Antes dele não tinha o que medir, não havia tempo. O zero é a explosão. Explosão que encobriu o som do início do movimento das engrenagens da grande máquina, o relógio, o marcador de eventos. O tempo começou a ser medido através de sequenciamentos, de eventos coincidentes, coube ao homem definir os eventos. O principal é o movimento terrestre que gera a alvorada e o crepúsculo. O tempo só serve para medir coincidências, se não há alguma transformação, não existe a necessidade de mensurar.
Parei por um instante e me escorei na malha observando o tempo. Já que o tempo é assim mecanicamente definido por nós humanos, por que então o tempo das diversas pessoas é tão diferente? Uns aceleram, outros freiam, alguns deixam como está e há os que esperem o tempo de Deus. Por torná-lo assim mecânico, nossa vida começou a se basear no tempo e se tornou como tal, um tédio defindo por fases.
O tempo passa – se é que passa mesmo – incrivelmente devagar perto de certas pessoas, elas conseguem deformar o espaço-tempo com suas massas, donos de quase antíteses. Admirável. O silêncio oportuno, a sensação de medo, o afago de consolo. Dias longos, anos curtos. Isso é um dom, o tempo independe de qualquer esforço feito por nós.
O manual de operação da máquina dizia em seu subtítulo: “Tempo não é médico, medicamento, agrado ou esconderijo”. Pode ser que fosse uma tentativa da Inacessível em se desvencilhar de qualquer culpa que nós atribuímos ao nosso tempo. Estando bem ou mal, ela vai continuar girando, rangendo, costurando, contando, passando, badalando, tictacqueando, enlouquecendo-nos. Pode jogar uma chave inglesa nas engrenagens, tirar a pilha, atrasar, jogar pela janela, não adianta, o que importa nesse sistema está inacessível a você. A fita de fatos. Ela costura suas ações à sua vida e ao seu tempo. Se costura não pode ser desfeito, senão costura a fita continua sem olhar o passado.
Até quando você vai achar que o tempo passa a seu belprazer curando tudo? Não coloque a consequência das suas escolhas no dito cujo. Tempo é tempo, cura é cura, afastamento é afastamento, mas não há vice versa! Como, o ovo que é galinha, sendo que a recíproca não é verdadeira. Quem sabe o problema esteja na sincronia do seu relógio com o Inacessível. Quem sabe as transformações ou coincidências que você usa como base para a medição sejam fracas para tal nível de precisão temporal na costura. Quem sabe seu Big Bang ainda nem tenha acontecido, sua fita de fatos não tenha saído do lugar e você não saiba onde está seu mísero relógio, mesmo que ele perturbe sua cabeça e o leve a fatos de um passado sem marcação de tempo.
Comecei a perceber que aquilo não estava lá há 15 bilhões de anos, desde a origem do Universo. Estava lá desde que percebi o meu tempo, era o meu relógio sincronizando com o Inacessível. A fita de fatos a partir da minha explosão ligava fatos temporais medidos por mim.
É sobre o seu tempo e aquele tempo.
 “Trim trim trim” – a transformação da alvorada tinha início.
Dormi em um vislumbre. Como se tivesse tacado o despertador na parede.